(* O seguinte texto foi-me enviado por uma leitora do Queridos Anos 80. Fala da vida e da música. Caminhos cruzados. Foi sempre assim e assim será sempre.)
Corria o ano de 1984 quando o vi pela primeira vez… Quando reparei nele, estava a observar-me com o sorriso mais lindo e mais sincero que vi até hoje. Acho que não existe olhar com mais brilho que o dele. Eu era uma miúda, ele era um homenzinho com 16 anos. Ficamos a sorrir e a olhar um para o outro. Para quê falar quando somos criança e ainda nos guiamos por instintos? Os meus pais eram emigrantes em França, ele perguntou-me quando vínhamos de vez, respondi-lhe talvez daqui a dois anos, ao que ele me respondeu “então pode ser que a gente se encontre”.
Regressei a França e pensava nele ao som dos Foreigner, “I want to know what love is”, esperando ansiosamente pelo mês de agosto. Encontrávamo-nos às escondidas, nunca estive mais de quinze minutos seguidos com ele, porque os meus pais controlavam-me por eu ser muito nova, mas o pouco tempo juntos era de uma intensidade desmedida. O resto do ano, escrevíamos cartas que hoje classificaríamos de lamechas, mas no fundo, eram tão puras e tão sinceras. A Cyndi Lauper cantava “time after time” e eu ficava com o coração apertado de tantas saudades do meu amor. No seu aniversário, enviei-lhe o disco do Ken Lazlo “don´t cry”. Ele ofereceu-me o “you´re my heart, you´re my soul” dos Modern Talking.
O tempo foi passando, fui crescendo, deixei-o… Pura criancice. A distância era muita, os meus pais não me deixavam sair de casa por causa dele, passava a vida a esconder (mal) as cartas… Se eu tivesse sido paciente! Mas quem consegue ter paciência com 16 anos e ter força para lutar contra tudo e todos?
O tempo foi passando, cresci… Casei, ele também. Tive um filho, ele também. Tenho um casamento feliz, mas o meu coração nunca voltou a saltar como no dia em que o vi pela primeira vez. Porque há coisas que só acontecem uma vez na vida… A minha vez foi em 1984.
De vez em quando cruzávamo-nos e cumprimentávamo-nos cordialmente. Há dois anos, ficamos virados um para o outro num carrossel, ambos estávamos acompanhados dos nossos filhos. Quando me viu, voltei a ver o mesmo sorriso que tinha visto há mais de 20 anos.
No mês passado, ele faleceu com um ataque cardíaco fulminante. Arrependo-me de não ter partilhado estas recordações com ele.
How could I watch you walk away?
I'd give anything to have you here today
But now I stand alone with my pride
And dream that you're still by my side
Dele só me resta um disco dos Modern Talking, o recorte da necrologia, e a recordação dos melhores anos da minha vida … Os meus queridos anos 80.
Goodbye yesterday
Now it's over and done
Still I hope somewhere deep in your heart
Yesterday will live on
(Autora identificada)
3 comentários:
(Suspiro)
E mais não digo. Nem consigo.;)
:)
Gostei
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