sexta-feira, fevereiro 26, 2021

45 rotações (XV)

S.A.R.L.
Self-Made Man


 Os S.A.R.L. - Sociedade Artística e Recreativa Lusitana - surgiram em finais dos anos 70 pela mão de Pedro Osório, Carlos Alberto Moniz e Samuel. Editaram uns 3 ou 4 singles e participaram em duas edições do Festival RTP da Canção.

Self-Made Man foi um desses singles, editado em 1979, e que traz no lado B (ou 2, como se pode ver na contracapa), o curioso tema Poema do Pária Perante a Mercearia, uma autêntica ode às lutas das classes trabalhadoras e desfavorecidas de um Portugal ainda a dar os primeiros passos numa democracia imberbe. Segue-se o vídeo com as duas canções e a letra da canção do lado 2.



Processem o aroma do café e as andorinhas

Que comem, não pagam renda e são um péssimo exemplo!

 

Cheira a café, cheira a chá

Mas quando o cheiro me chama

A chaleira não se acha, cheira a enchidos de fama

Cheira a chouriça, a bolacha

Eu tenho a fome em pijama

E a cama não se despacha

 

Chega-me o cheque, choca sem me chocar com os dentes

Esse cheiro que me toca sem o cheque que me abone

Deixa-me água na boca

Onde os dentes entre dentes vão tocando xilofone

 

E enquanto aguento no gueto uma sopa que se coma

Os garfos das palavras que eu espeto são farpas que se cravam na redoma

 

Eu tenho a refeição no calabouço

O emprego na corda bamba

 

Minha fruta é o caroço carimbado de caramba

Meu valor é o alomba

Minha cama é a tarimba

Minha tarefa é a tromba de que em mim se marimba

Dando embora de presente caricatas vinte latas de bondade portuguesa

Que faz a correspondente comovente

Propaganda da empresa

Que de verbas se governa

E que o verbo nos coarta

Que se parta de fraterna

E despede que se farta

Na porca da hipocrisia

Que nos parte e não se importa

Eu à porta do negócio da cidade, do consócio

A cheirar a mercearia

 

Cheira a café, cheira a chá

Mas quando o cheiro me chama

A chaleira não se acha, cheira a enchidos de fama

Cheira a chouriça, a bolacha

Eu tenho a fome em pijama

E a cama não se despacha

 

Minha fruta é o caroço carimbado de caramba

Meu valor é o alomba

Minha cama é a tarimba

Minha tarefa é a tromba de que em mim se marimba

Eu à porta do negócio da cidade, do consócio

A cheirar a mercearia