Os rapazes do Gato Fedorento, como pessoas inteligentes que são, escolheram muito bem o momento para se afastarem da televisão. No início, começaram por ser hilariantes, depois tinham muita piada, e, nesta última fase, já só tinham piada às vezes. Por isso, repito, foram inteligentes na forma como decidiram libertar-se da caixinha mágica e evitar um desgaste maior e, eventualmente, fatal.
Isto não impediu que conseguissem um programa de passagem de ano que eu qualificaria de muito bom, tendo em conta as condições em que foi feito: em directo e perante um Pavilhão Atlântico cheio. Foi uma despedida em cheio, na minha opinião. É claro que para isso muito contribuiu a ideia de celebrar a passagem de ano de 1984 para 1985, convidando para o palco artistas portugueses e uma cantora internacional da época. E com a preciosa colaboração do grande Júlio Isidro.
Se houvesse um "Prémio Emoção" para aquela noite, ele teria sido atribuído às Doce. Fátima Padinha, Teresa Miguel e Lena Coelho justificaram a ausência de Laura Diogo, a seguir recrutaram o Diogo dos Gato para o quarto microfone, e cantaram o Bem Bom com vozes afinadíssimas e coreografia a condizer. Com dignidade, boa presença visual, estas Doce foram responsáveis por um dos momentos altos da noite.
Os Trabalhadores do Comércio surpreenderam-me pela vitalidade em palco. A versão mais rockeira do clássico Chamem a Polícia abanou com o pavilhão e nem a pronúncia do norte (carago!) de Sérgio Castro impediu que o "pessuale" se "dibertisse". E o puto está crescido...
Os Jáfumega (ou seria apenas Luis Portugal?) trouxeram Latin'América. A voz de Luis Portugal aguentou-se naquele registo que só ele consegue (e o Ricardo Araújo Pereira também, se lhe retirarem um testículo, como o próprio confessou...), e foi uma das supresas da noite.
Os DaVinci foram, para mim, uma desilusão. A versão rockalhada de Hiroxima (Meu Amor) despiu o original de toda a sua especificidade electrónica eighties e transformou-a numa canção amorfa e sem chama. Em termos vocais, Iei Or - com o seu look característico de sempre - começou a sua prestação quase a medo, conseguindo soltar-se à medida que a actuação foi avançando, com o tema Conquistador e a natural resposta eufórica do público.
Os Rádio Macau ofereceram-nos O Anzol e fizeram muito bem, mostrando que o tempo não passa por quem é competente e talentoso. Xana esteve bem, apesar de já muito longe daquele look alternativo que ostentava nos anos 80 (e que eu preferia, para ser sincero). A harmónica do Flak também continua em forma.
Os Clã, apesar de não serem uma banda dos anos 80, inundaram o Pavilhão Atlântico de memórias de infância e puseram toda a gente a cantar e a dançar. A Abelha Maia, o D'Artacão, entre outros, passaram por lá... Gostei.
Em termos internacionais, o reveillon foi enriquecido (ou não) com a presença de Sabrina. O efeito surpresa foi bem conseguido pelos Gatos, depois de sucessivos acidentes de helicóptero que impediram que Duran Duran, Prince, Wham, Tina Turner pudessem estar no Pavilhão Atlântico. Quando todos pensávamos que acontecesse o mesmo com o helicóptero da italiana, eis que a rapariga aparece mesmo em palco. Surpreendeu-me a sua boa forma física (a forma da sua voz não foi possível avaliar devido ao playback), que interpretou Boys Boys Boys, desta vez, e de modo sensato, evitando atravessar o palco aos saltos como o fazia antigamente.
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