O texto que se segue é da autoria de André Leão, do blogue In Shreds. Amavelmente aceitou o meu convite para enriquecer o Queridos Anos 80 com o seu conhecimento sobre uma das suas bandas de eleição (talvez mesmo A banda de eleição...). O meu muito obrigado ao André!
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O 1º single da banda, In Shreds (1981), é uma das suas faixas mais agressivas e chamou a atenção do legendário John Peel, o que lhes valeu várias radio sessions, algumas editadas posteriormente em compilações.
Entre 1981 e 1983, os Chameleons foram ganhando notoriedade no circuito independente britânico, conseguindo angariar uma legião de admiradores que os seguia por todo o país. Apesar de não terem um tostão furado, foi um período de grande criatividade da banda, a que não foi alheio os períodos reflectivos passados à beira do Loch Ness (e também a influência dos cogumelos alucinógeneos, segundo a biografia “View from a hill” do Mark Burgess).
Em 1983 é finalmente lançado o primeiro álbum de originais, e que além dos singles Up the down escalator, Don´t fall, As high as you can go e A person isn´t safe anywhere these days, incluí aquela que é unanimemente considerada como a melhor composição da banda, Second Skin. O álbum foi justamente aclamado pela crítica e pelo público, atingindo o patamar de discos como Unknown Pleasures, From the lion´s mouth ou Ocean rain.
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Logo de seguida a banda lança o terceiro álbum de originais, Strange times. Tal como o próprio nome do disco indica, foi um parto bastante difícil, uma vez que as clivagens entre os membros da banda, tendo por um lado o Mark, por outro o Reg e o Dave (este incompatibilizando-se de forma radical com o Mark) dava já a entender que o final da banda poderia estar para breve. Mesmo assim, apesar do disco demonstrar claramente as diferentes direcções seguidas pelos seus membros, este é considerado como o álbum preferido pelos fans dos Chameleons, tendo inclusive 2 singles com entrada no top britânico: Tears e Swamp Thing.
Por esta altura dá-se também um acontecimento trágico. O mítico Tony Fltecher, manager da banda, aparece morto e os Chameleons resolvem cessar as actividades, não sem antes lançar um último EP, Tony Fletcher Walked On Water...La La La La La-La La-La La. Apesar das já públicas divergências da banda, este EP permanece com um dos seus tesouros mais bem escondidos, e qualquer uma das suas 4 faixas permanece ainda hoje como das melhores dos Chameleons.
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Durante este período foram saindo inúmeros discos com material nunca antes editado (compilações, álbuns ao vivo, etc.), e que foi dando para manter financeiramente os membros da banda. No entanto o dinheiro começava a escassear, Adrian Borland atira-se para debaixo de um comboio, e o Mark propõe em 2000 deixar para trás as divergências com o Dave e reactivar a banda para uma série de concertos e um novo álbum de originais. Este trabalho culmina com a edição de um álbum acústico, Strip (2000), que incluía já 2 temas inéditos, e um ano depois o 4º álbum de originais, Why call it anything. Este disco não reuniu nunca o consenso do público, ate porque incluía um elemento “estranho” à banda, Kwasi Asante, contribuindo para uma sonoridade mais reggae em algumas das faixas (bastante vísivel no Miracle and wonders). No entanto, este disco mostrou também que a criatividade da banda não se tinha esfumado, e composições como Indiana, Anyone Alive? e em especial Dangerous land faziam sonhar no regresso aos tempos áureos dos Chameleons.
Em 2003, depois do Dave recusar-se a comparecer num concerto em Atenas, a banda dissolve-se de vez, continuando os seus membros em inúmeros projectos paralelos (realce para o excelente projecto Black Swan Lake). Haverá uma 3ª vida para os Chameleons? A recente edição comemorativa dos 25 anos do Script of the bridge indica que poderá haver…
André Leão