O texto que se segue é da autoria de André Leão, do blogue In Shreds. Amavelmente aceitou o meu convite para enriquecer o Queridos Anos 80 com o seu conhecimento sobre uma das suas bandas de eleição (talvez mesmo A banda de eleição...). O meu muito obrigado ao André!
Os Chameleons formaram-se em Middleton, em 1981, quando Mark Burgess (ex-Clichés), Reg Smithies (ex-Years), Dave Fielding (ex-Years) e Brian Schofield (substituído pouco depois por John Lever), que faziam parte do mesmo grupo de amigos e da onda pós-punk que emergiu em Inglaterra no início da década de ouro da música, resolveram criar aquela que é uma das bandas, a par dos Joy Division, que mais influenciou todo o revivalismo que actualmente se vive no seio da música alternativa (Editors, Interpol, She Wants Revenge, White Rose Movement, etc.).
O 1º single da banda, In Shreds (1981), é uma das suas faixas mais agressivas e chamou a atenção do legendário John Peel, o que lhes valeu várias radio sessions, algumas editadas posteriormente em compilações.
Entre 1981 e 1983, os Chameleons foram ganhando notoriedade no circuito independente britânico, conseguindo angariar uma legião de admiradores que os seguia por todo o país. Apesar de não terem um tostão furado, foi um período de grande criatividade da banda, a que não foi alheio os períodos reflectivos passados à beira do Loch Ness (e também a influência dos cogumelos alucinógeneos, segundo a biografia “View from a hill” do Mark Burgess).
Em 1983 é finalmente lançado o primeiro álbum de originais, e que além dos singles Up the down escalator, Don´t fall, As high as you can go e A person isn´t safe anywhere these days, incluí aquela que é unanimemente considerada como a melhor composição da banda, Second Skin. O álbum foi justamente aclamado pela crítica e pelo público, atingindo o patamar de discos como Unknown Pleasures, From the lion´s mouth ou Ocean rain.
Dois anos volvidos, e surge então o sempre difícil segundo álbum da banda. What does anything mean? Basically (1985), mostra uns Chameleons com um som mais trabalhado e mais suavizado, como aliás se nota logo no instrumental de abertura, Silence, Sea and Sky. Apesar do interesse na banda ter esfriado um pouco, foram convidados pelo John Peel para mais uma sessão, e foi editado também um single, Singing Rule Britannia (While the Walls Close In). Não sendo um álbum brilhante como Script of the bridge, atingiu momentos muito altos com faixas como Home is Where the Heart Is ou Perfume garden. Por esta altura tocaram em Portugal, no Rock Rendez-Vous. No you tube conseguem encontrar um registo antigo gravado pela RTP com 4 das faixas tocadas em Portugal.
Em 1986 sai a primeira das muitas compilações dedicadas à banda, The fan and the bellows, e que incluí as primeiras músicas gravadas pelos Chameleons e que não tiveram lugar no primeiro álbum, casos de Nostalgia, In shreds ou The fan and the bellows.
Logo de seguida a banda lança o terceiro álbum de originais, Strange times. Tal como o próprio nome do disco indica, foi um parto bastante difícil, uma vez que as clivagens entre os membros da banda, tendo por um lado o Mark, por outro o Reg e o Dave (este incompatibilizando-se de forma radical com o Mark) dava já a entender que o final da banda poderia estar para breve. Mesmo assim, apesar do disco demonstrar claramente as diferentes direcções seguidas pelos seus membros, este é considerado como o álbum preferido pelos fans dos Chameleons, tendo inclusive 2 singles com entrada no top britânico: Tears e Swamp Thing.
Por esta altura dá-se também um acontecimento trágico. O mítico Tony Fltecher, manager da banda, aparece morto e os Chameleons resolvem cessar as actividades, não sem antes lançar um último EP, Tony Fletcher Walked On Water...La La La La La-La La-La La. Apesar das já públicas divergências da banda, este EP permanece com um dos seus tesouros mais bem escondidos, e qualquer uma das suas 4 faixas permanece ainda hoje como das melhores dos Chameleons.
Depois deste encerramento prematuro, os membros dos Chameleons resolveram seguir diversos projectos paralelos, casos de The Sun and the Moon, The Reegs, Mark Burgess and the Sons of God, Invincible. Nunca atingiram, no entanto, o sucesso e o reconhecimento que obtiveram com os Chameleons. De todos os projectos, houve um, no entanto, que sobressaiu pela sua grande qualidade: White Rose Transmission. Ou não se tratasse de uma colaboração entre o Mark Burgess, Adrian Borland (The Sound) e Carlo Von Putten (The Convent).
Durante este período foram saindo inúmeros discos com material nunca antes editado (compilações, álbuns ao vivo, etc.), e que foi dando para manter financeiramente os membros da banda. No entanto o dinheiro começava a escassear, Adrian Borland atira-se para debaixo de um comboio, e o Mark propõe em 2000 deixar para trás as divergências com o Dave e reactivar a banda para uma série de concertos e um novo álbum de originais. Este trabalho culmina com a edição de um álbum acústico, Strip (2000), que incluía já 2 temas inéditos, e um ano depois o 4º álbum de originais, Why call it anything. Este disco não reuniu nunca o consenso do público, ate porque incluía um elemento “estranho” à banda, Kwasi Asante, contribuindo para uma sonoridade mais reggae em algumas das faixas (bastante vísivel no Miracle and wonders). No entanto, este disco mostrou também que a criatividade da banda não se tinha esfumado, e composições como Indiana, Anyone Alive? e em especial Dangerous land faziam sonhar no regresso aos tempos áureos dos Chameleons.
Em 2003, depois do Dave recusar-se a comparecer num concerto em Atenas, a banda dissolve-se de vez, continuando os seus membros em inúmeros projectos paralelos (realce para o excelente projecto Black Swan Lake). Haverá uma 3ª vida para os Chameleons? A recente edição comemorativa dos 25 anos do Script of the bridge indica que poderá haver…
André Leão