Ontem, no mercado do Jardim do Marquês, comprei este LP de Maria Guinot, uma edição de autor de 1988, com arranjos e direção musical de Pedro Osório e produção deste e da própria Maria Guinot. Com a participação de Fernando Tordo e Paulo de Carvalho, Essa Palavra Mulher foi o primeiro álbum da responsável pelo tema mais belo alguma vez escrito para o Festival da Canção. Falo, evidentemente, de Silêncio E Tanta Gente.
Uma curiosidade: a contracapa do LP traz impresso um soneto intitulado Herança, que, deduzo, seja da autoria da própria Maria Guinot. O tom é de revolta contra um certo status quo (musical?) do qual a cantautora se recusa a fazer parte.
Herança
Herdeira das invejas pequeninas
da estreiteza das ideias apressadas
das maneiras subtis tornadas finas
do escuro das decisões envenenadas
herdeira de mil fados bafientos
do espartilho de caminhos tortuosos
e de rumos quase podres, lamacentos
e de rostos que se vergam, untuosos
herdeira de um mercado de valores
que passam por benesses, por favores
e processos que, por vezes, não entendo!
Esta herança consciente rejeitei
e aqui deixo expresso o grito que lancei:
herdeira disto? Não! Eu não me vendo!
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