A morte de Amy Winehouse, hoje, surpreende, não tanto pela novidade - no processo de auto-destruição em que se encontrava, era uma questão de tempo... - mas pela coincidência de ter ocorrido aos 27 anos, precisamente a idade com que grandes ícones da música internacional nos deixaram. O peso desta coincidência é tanto que até existe a designação de "Clube dos 27" para este conjunto dos artistas. Nesse "clube" estão, entre outros, Brian Jones (Rolling Stones), Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt Cobain. E agora, Amy Winehouse. Com esta morte, lembrei-me das vozes femininas que povoaram os anos 80. E lembrei-me de que os 27 anos não têm de ser - nem devem ser - capítulo final de uma existência. O trabalho que se segue situa algumas das principais vozes femininas dos anos 80 aos 27 anos. Algumas faltarão aqui, mas, para que a lista não se tornasse demasiado longa, impus o critério de que o vigésimo sétimo aniversário teria de ter sido celebrado durante a década dourada da pop, o que, desde logo, eliminou nomes como Tina Turner, Debbie Harry, Kylie Minogue ou Samantha Fox (entre outras).
Aos 27 anos, Adelaide Ferreira vem de editar o seu primeiro álbum, Entre Um Coco E Um Adeus (1986), que inclui temas como Papel Principal e Coqueirando. No ano anterior, tinha vencido o Festival RTP da Canção, com Penso Em Ti, mas na Eurovisão, o tema não fora além do... 18º lugar e último. Entre Um Coco E Um Adeus confirma Adelaide como uma cantora sólida, capaz de suplantar a mera sucessão de singles em que a sua carreira se tinha tornado.
Aos 27 anos, Alison Moyet ganha o Brit Award para Melhor Artista Feminina. Um ano antes, em 1987, lança Raindancing, o seu segundo álbum a solo, que mostra uma sonoridade mais light-pop, já muito distanciada das aventuras electrónicas com Vince Clarke (nos Yazoo). Canções como Is This Love, Weak In The Presence Of Beauty e Ordinary Girl, fazem parte deste álbum, que apenas verá sucessor em 1991 (Hoodoo). Ainda em 1987, Alison Moyet grava Love Letters, uma versão do original de 1945.
Aos 27 anos, Annie Lennox integra os Eurythmics, que acabam de lançar o primeiro álbum, In The Garden. Produzido em parceria com Conny Plank (que já vem do tempo dos The Tourists), In The Garden produz dois singles, Never Gonna Cry Again e Belinda, e tem um desempenho discreto nas tabelas de vendas. O sucesso comercial para os Eurythmics surgirá dois anos depois, com o segundo LP, Sweet Dreams (Are Made Of This).
Aos 27 anos, Belinda Carlisle encontra-se numa fase decisiva da sua carreira musical. As Go-Go's acabam em Maio de 1985 e Belinda inicia, ainda nesse ano, as gravações do seu primeiro álbum a solo, intitulado Belinda (1986). O futuro é uma incógnita (Heaven Is A Place On Earth virá mais tarde), mas as participações de gente como Mick Fleetwood (Fleetwood Mac), Susanna Hoffs (Bangles), Andy Taylor (Duran Duran) e Tim Finn (Split Enz), neste álbum de estreia, asseguram um início auspicioso. Deste álbum são extraídos os singles Mad About You, I Feel The Magic e Band Of Gold.
Aos 27 anos, Cyndi Lauper ainda está longe do sucesso que obterá como cantora a solo. Em 1980, faz parte de uma banda retro-rockabilly chamada Blue Angel, que editam, no mesmo ano, um álbum homónimo, de resto, o único. Deste álbum, fazem parte temas como I'm Gonna Be Strong (gravada, nos anos 60, por Gene Pitney, na sua versão mais conhecida) e Maybe He'll Know (que regravará para o álbum a solo True Colours).
Aos 27 anos, Gloria Estefan faz parte dos Miami Sound Machine, que lançam, em Agosto de 1984, o primeiro álbum cantado em inglês, de uma carreira que, até então, apenas tinha como alvo a comunidade latina de Miami e arredores. Este álbum inclui Dr. Beat, uma cançãozinha tão irritante quanto o airplay que teve, na altura, por tudo quanto era rádio.
Aos 27 anos, Kate Bush prepara-se para lançar Hounds Of Love (1985), o quinto álbum da sua carreira e aquele que virá a constituir-se como o seu mais bem sucedido trabalho em termos comerciais. Em 2002, a revista Q considera-o mesmo o terceiro melhor álbum feminino da história da música. Dele fazem parte temas como Running Up That Hill, Hounds Of Love e Cloudbusting.
Aos 27 anos, Kim Wilde grava Close (1988), o seu sexto álbum, que inclui um dos seus mais bem sucedidos singles de sempre, You Came. Produzido por Ricky Wilde (irmão de Kim) e Tony Swain, Close é o último álbum em que Marty Wilde (o pai) participa como compositor. Este LP produz os singles Hey Mister Heartache, You Came, Four Letter Word, Love In The Natural Way e Never Trust a Stranger.
Aos 27 anos, Madonna vem da sua primeira digressão, a Virgin Tour, que promove os primeiros dois álbuns, Madonna (1983) e Like A Virgin (1984), e se estende pelos Estados Unidos e Canadá (apesar de, inicialmente, ter sido planeada como mundial). Lembro-me de uma prima ter gravado um dos concertos, que passou numa rádio portuguesa (RFM? Já havia?), e de termos devorado aquilo nas férias. Na altura, não havia qualquer hipótese de as imagens chegarem até nós, mas, pelos relatos, soubemos que foi um sucesso de bilheteira. Mal sabíamos nós que madonna estava ainda no dealbar de uma carreira a todos os títulos única na história de música pop...
Aos 27 anos, Nena vê o seu projecto como banda chegar ao fim, dando início a uma carreira a solo que nunca virá a recuperar o sucesso mundial de 99 Red Balloons. Na Alemanha, será sempre muito grande.
Aos 27 anos, Pat Benatar está no início da sua carreira a solo, com álbum de estreia editado em Outubro de 1979, e preparando-se para lançar aquele que será o álbum de maior sucesso comercial da sua carreira: Crimes Of Passion. Este LP inclui Hit Me With Your Best Shot e Wuthering Heights, numa versão do original de Kate Bush.
Aos 27 anos, Paula Abdul goza ainda os dividendos de um álbum de estreia, Forever Your Girl (1988), que produziu seis singles e a consituiu como um fenómeno na música pop de dança americana. Straight Up, Forever Your Girl e Opposites Attract são alguns dos temas deste álbum.
Aos 27 anos, Sade Adu vence um Grammy para Melhor Novo Artista, e encontra-se em digressão mundial (a sua primeira) para promoção de Promise, o segundo álbum da banda (que tem o seu nome). Com dois álbuns na carteira, Diamond Life e Promise, Sade Adu é, aos 27 anos, uma das maiores artistas britânicas dos anos 80, preparando-se para gravar Stronger Than Pride, o seu terceiro LP.
Aos 27 anos, Sandra encontra-se a promover o seu terceiro álbum, Into A Secret Land (1988), do qual são extraídos cinco singles: Heaven Can Wait, Secret Land, We'll Be Together, Around My Heart e La Vista De Luna. Produzido pelo marido, Michael Cretu, Into a Secret Land antecede Paintings In Yellow, que será editado em 1990. Nesta altura já vão longe os tempos de Maria Magdalena ou In The Heat Of The Night, pelo que estes álbuns me passam completamente ao lado.
Aos 27 anos, Sheena Easton já conta com sete álbuns. A sua carreira atravessa alguma indefinição, o que a leva a optar pela música de dança, em detrimento da pop que lhe tinha granjeado sucesso no início da década. Em 1986, prepara-se para gravar No Sound But A Heart, o seu oitavo longa-duração. No ano seguinte, voltará à ribalta pela mão de Prince (U Got The Look).
Aos 27 anos, Siouxsie Sioux lança, com os Banshees, o sexto LP da banda, Hyaena (1984), que inclui Dazzle, Swimming Horses e, na edição americana, a fantástica versão de Dear Prudence (The Beatles). Paralelamente, mantém em actividade os The Creatures, com Budgie (baterista dos Banshees), com quem lançou, em Maio de 1983, o primeiro álbum.
Aos 27 anos, Suzanne Vega aprecia, certamente, a forma entusiástica como a crítica e o público acolheram o seu álbum de estreia (1985), que contém pérolas como Marlene On The Wall, Cracking e The Queen And The Soldier. Nesta altura, estará já em processo de composição dos temas que farão parte de Solitude Standing, o segundo LP, a lançar no ano seguinte.
Aos 27 anos, Tracey Thorn tem já uma carreira consolidada com os Everything But The Girl, que se preparam para lançar The Language Of Life (1990). Este é o quinto álbum do projecto que surge em 1982 com Tracey e Ben Watt, o seu companheiro de sempre.
3 comentários:
Achei excelentemente bem conseguida a forma como a partir do pretexto do "Clube dos 27" (assim denominado devido ao trágico contexto), conseguiste transformar a simbologia deste número em algo francamente positivo, tentando atribuir-lhe uma nova conotação. As mulheres dos 80s aos 27 "rulavam" e, dependendo da perspectiva, tudo tem um lado positivo... =) Parabéns pela publicação, Tarzanboy!
memyselfandi, obrigado :)
O que é mais espantoso (ou não) é que não houve uma onda de choque com a morte da Whine. Todos, no fundo, esperavam isto.
E isto é que é dramático, esta noção de «live fast and die young.»
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