quarta-feira, novembro 10, 2004

Pet Shop Boys em Alcochete - Alguém foi? (actualizado em 12/11/04)



O Beep Crónicas foi e autorizou-me a publicar o seu excelente texto. Obrigado!

"Algo de estranho está no ar. Falou-se muito de história quando MADONNA passou por Portugal, há não muito tempo. Era praticamente impossível encontrar algum órgão de comunicação que não o destacasse. É certo que os PET SHOP BOYS nunca terão o impacto cultural de Lady Ciccone. No entanto, como explicar que, com 20 anos de carreira, e um conjunto invejável de grandiosas canções, a sua primeira vinda a Portugal tenha passado tão despercebida? Vicissitudes de não ser um concerto com o aparato de um Coliseu ou Atlântico, e sim uma borla oferecida por um outlet da margem sul do Tejo? É uma possibilidade real.
A Praça das Estrelas é uma espécie de mini-Praça Sony, degraus incluídos, com a diferença de também permitir alguns lugares sentados ou em pé num passadilho mais acima. O Síndroma Borla não se fez rogado, e manifestou-se na forma de um duelo estridente entre dois grupos de pitinhas, para quem emitir o grito mais agudo era mais importante do que qualquer coisa que se passasse em palco.
Já com o anfiteatro bem composto, e após um DJ de identidade desconhecida ter passado uns quantos números de house manhoso, o duo Chris Lowe e Neil Tennant surgiu, enfim, em palco. O efeito tornou-se, surpreendentemente, algo desagradável, quando “Rent” foi atropelada por ruídos e batidas contranatura, mesmo que a voz de Tennant mantenha todo o romantismo que a tornou inconfundível. Tentar ignorar o que não interessava e ir acompanhando a melodia foi a solução. “Flamboyant”, último single, entrou com vontade de corrigir o alinhamento planetário. Tennant dava provas de uma presença em palco e carisma exemplares. De túnica envergada, meio-sacerdote, meio-mágico, circulava pelo palco, e gesticulava enfatizando os seus invulgares talentos melódicos, e habilidade em extrair a beleza de lugares inóspitos. A história voltou à acção, em “West End Girls”, mesmo desprovida de vozes femininas e trompetes. Nesta altura, a Tennant e Lowe juntaram-se dois guitarristas e uma baterista, que ajudaram a encorpar a recta final da canção. Altura para fazer menção ao facto de ser a primeira visita a Portugal, e usar o pretexto para uma eufórica “Se A Vida É”, seguida de uma magistral e visceral “Domino Dancing”, com direito a extensos coros da assistência. “We’re just two boys from suburbia”, disse Tennant. E todos adivinharam o que se seguiria. Sebes, longas estradas, autocarros nocturnos, predadores de jardim, o grito “Let’s take a ride and run with the dogs tonight in suburbia”, sempre tão pungente. Se as coisas cada vez mais iam ganhando ritmo, aumentando a excitação vivida, o momento seguinte foi de apreensão, quando Tennant desaparece de palco, e Lowe começa a tocar o instrumental da magnífica “Being Boring”. Quando o vocalista surge, com nova indumentária, já se temia que ficássemos privados das lindas e felizes reminiscências da canção. Não fomos poupados, e ainda bem. A festa prosseguiu, com performances eufóricas para “New York City Boy” (Tennant a substituir-se ao coro do original), e uma tocante “Always On My Mind”. Entrados em velocidade de cruzeiro, foi hora da banda ir buscar surpresas como “Sexy Northerner” ou “Love Is A Catastrophe”, esta última cantada com Tennant sentado a maior parte do tempo, e a funcionar como mancha alastrante. Ambas foram intercaladas por novo momento de euforia em palco, ao som de “Where The Streets Have No Name”, o original dos U2, com direito a pedaços de “Can’t Take My Eyes Off You”. Por esta altura, estava implantado o reino dos Pet Shop Boys, e assim sendo, não havia que temer “Go West”. Esta noite, foi um verdadeiro hino de comunhão, cantado a muitas vozes.
De guitarra acústica, Tennant voltou para o encore, iniciado com uma “Home And Dry” de uma beleza trespassante, e a fazer jus ao título de melhor canção dos Pet Shop Boys-século XXI. Sempre com confiança redobrada, sempre consciente de que é um alquimista exímio, o, agora quase calvo, e grisalho, vocalista, seguiu para “Left To My Own Devices”, cujo refrão lançava berlindes a distâncias consideráveis. Exprimido o agradecimento à assistência (que nesta altura já me tinha quase furado os tímpanos), e o desejo de voltar em breve, só houve tempo para colocar os níveis no vermelho, e atacar “It’s A Sin”. Para ser mais perfeito, este só necessitava de ver relâmpagos caírem em redor de Tennant e Lowe. Não aconteceu, mas não era difícil imaginá-los. Se o momento histórico da vinda dos sacerdotes talvez pudesse ter sido assinalado por outra euforia, na altura em que importava não houve poupanças. A vida? Se é assim, é para nos fazer felizes. 8.5/10

Beep Beep"

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